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O desenho da vida

por Moralez, em 14.10.16

Estou confortavelmente instalado na minha vida, sei de onde vim, o que faço e para onde vou, na minha mente existe um plano mais ou menos predefinido e com mais curva, menos curva, um desvio aqui, outro desvio ali, mantenho o caminho e sigo o rumo que escolhi.

 

O plano não é elaborado, nem rebuscado, a felicidade advém da simplicidade, e há muito que aprendi que as coisas com mais significado são as que aparentam ser banais.

Na minha cabeça há muito que o plano deixou de ser um esboço para ser um desenho definitivo, abandonei os lápis, preferi a tinta permanente e os rabiscos ganharam contornos definitivos.

 

Os desenhos que traço são depurados de ilusões, são verdadeiros, calculados e realistas, tal como eu, espelham os meus sonhos filtrados pela minha realidade. Acredito que quanto mais simples são as nossas aspirações, mais facilmente as concretizamos.

 

Mas nem só a minha tinta escreve a minha vida, há pinturas externas que interferem com o meu desenho, algumas tintas tornam a minha pintura mais colorida, mais rica, mais bonita, outras tintas são borrões que sujam, mancham e tingem a tela.

 

Há uns meses deparei-me com um borrão imprevisto, um dos frascos que alimentava o meu desenho, entornou-se e derramou uma tinta escura e viscosa no meu desenho, o meu desenho transformou-se, perdeu a nitidez, as cores alegres e a definição dos contornos.

 

Subitamente a mancha que começou pequena estava a espalhar-se por toda a parte e a devorar todo o meu desenho, a consumir as cores, os traços, as linhas, tentei limpar, desenhar de novo, mas as linhas desvaneciam-se, os borrões aumentavam.

 

Questionei o meu plano, as linhas que desenhei, as cores que escolhi, revi vezes sem conta as minhas escolhas, as escolhas que fizeram este borrão não foram minhas, mas o borrão estava ali e tinha de lidar com ele.

 

Sei que a vida é imprevisível, é muito mais imprevisível do que a maioria das pessoas sabe, tive de aprender a lidar com isso ainda novo, quando na vida faltou uma cor, uma cor primária, essencial que nunca poderá ser substituída.

 

Aprendi a pintar sem ela, o meu desenho é um pouco mais pobre, nunca está totalmente colorido, mas lentamente voltou a ter as cores da felicidade. São borrões da vida e temos que aprender a pintar por cima deles.

 

Este foi um borrão diferente, levou-me a questionar as minhas cores, pois não conseguia encontrar sentido, propósito, motivo, abruptamente estava tudo mesclado, uma enorme névoa caiu sobre a tela e eu simplesmente não conseguia ter clareza para definir os contornos.

 

Sorte, justiça, acaso, arrependimento, milagre, o frasco ergueu-se e absorveu a tinta derramada numa mudança tão brusca que parece inacreditável, o desenho que julgava perdido reapareceu, o meu plano, o meu rumo está novamente visível.

 

Perfilo todos os pincéis perfeitamente alinhados diante de mim, a palete de cores impecavelmente organizada, vislumbro os lápis, escolho um e desenho com a mão firme e traço certeiro a primeira linha, o primeiro esboço do desenho que alicerço na mente e trasponho na tela, há espaço para criar e eu sinto-me novamente confiante, inspirado e feliz.

 

A vida é um conjunto de cores que mudam de tonalidade e forma, quando menos esperava a minha pintou-se com as cores vivas da Primavera mesmo que lá fora as cores sejam de Outono.

 

Apenas tenho de fazer as cores fluírem e colorirem o meu desenho com pinceladas precisas e harmoniosas.

 

Obrigado a todos que nos dias mais cinzentos gentilmente me cederam pinceladas das suas cores para colorirem o meu desenho.

 

So long fellows!

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