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O manda-chuva chama um dos seus funcionários e diz:
- Eu quero lhe dizer que você tem demonstrado grande capacidade e competência no desempenho de suas funções. Entrou aqui como escriturário, nem faz um ano...
O funcionário acenava afirmativamente com a cabeça, enquanto o chefe continuava:
- E tudo isso, apesar de sua pouca idade, pois nem sequer completou 18 anos e teve uma rápida ascensão. Apenas dois meses depois de chegar, você já foi promovido a supervisor!
Meio encabulado, o funcionário sorria de sua história de sucesso, mas o patrão não parava:
- Mais três meses e foi designado chefe de sua secção. Não demorou nem três meses e recebeu logo outra promoção: foi designado chefe do departamento. E hoje, depois de apenas dois meses, já é um de nossos diretores. O mais influente deles!
O pessoal do escritório já estava a sentir farto, quando o todo poderoso mandou o golpe final:
- Como eu gosto de saber a opinião de nossos colaboradores, eu lhe pergunto: você está satisfeito connosco, com suas atividades, com suas promoções por merecimento e com o seu salário?
- ESTOU SIM, PAI!
So long fellows!
Estou confortavelmente instalado na minha vida, sei de onde vim, o que faço e para onde vou, na minha mente existe um plano mais ou menos predefinido e com mais curva, menos curva, um desvio aqui, outro desvio ali, mantenho o caminho e sigo o rumo que escolhi.
O plano não é elaborado, nem rebuscado, a felicidade advém da simplicidade, e há muito que aprendi que as coisas com mais significado são as que aparentam ser banais.
Na minha cabeça há muito que o plano deixou de ser um esboço para ser um desenho definitivo, abandonei os lápis, preferi a tinta permanente e os rabiscos ganharam contornos definitivos.
Os desenhos que traço são depurados de ilusões, são verdadeiros, calculados e realistas, tal como eu, espelham os meus sonhos filtrados pela minha realidade. Acredito que quanto mais simples são as nossas aspirações, mais facilmente as concretizamos.
Mas nem só a minha tinta escreve a minha vida, há pinturas externas que interferem com o meu desenho, algumas tintas tornam a minha pintura mais colorida, mais rica, mais bonita, outras tintas são borrões que sujam, mancham e tingem a tela.
Há uns meses deparei-me com um borrão imprevisto, um dos frascos que alimentava o meu desenho, entornou-se e derramou uma tinta escura e viscosa no meu desenho, o meu desenho transformou-se, perdeu a nitidez, as cores alegres e a definição dos contornos.
Subitamente a mancha que começou pequena estava a espalhar-se por toda a parte e a devorar todo o meu desenho, a consumir as cores, os traços, as linhas, tentei limpar, desenhar de novo, mas as linhas desvaneciam-se, os borrões aumentavam.
Questionei o meu plano, as linhas que desenhei, as cores que escolhi, revi vezes sem conta as minhas escolhas, as escolhas que fizeram este borrão não foram minhas, mas o borrão estava ali e tinha de lidar com ele.
Sei que a vida é imprevisível, é muito mais imprevisível do que a maioria das pessoas sabe, tive de aprender a lidar com isso ainda novo, quando na vida faltou uma cor, uma cor primária, essencial que nunca poderá ser substituída.
Aprendi a pintar sem ela, o meu desenho é um pouco mais pobre, nunca está totalmente colorido, mas lentamente voltou a ter as cores da felicidade. São borrões da vida e temos que aprender a pintar por cima deles.
Este foi um borrão diferente, levou-me a questionar as minhas cores, pois não conseguia encontrar sentido, propósito, motivo, abruptamente estava tudo mesclado, uma enorme névoa caiu sobre a tela e eu simplesmente não conseguia ter clareza para definir os contornos.
Sorte, justiça, acaso, arrependimento, milagre, o frasco ergueu-se e absorveu a tinta derramada numa mudança tão brusca que parece inacreditável, o desenho que julgava perdido reapareceu, o meu plano, o meu rumo está novamente visível.
Perfilo todos os pincéis perfeitamente alinhados diante de mim, a palete de cores impecavelmente organizada, vislumbro os lápis, escolho um e desenho com a mão firme e traço certeiro a primeira linha, o primeiro esboço do desenho que alicerço na mente e trasponho na tela, há espaço para criar e eu sinto-me novamente confiante, inspirado e feliz.
A vida é um conjunto de cores que mudam de tonalidade e forma, quando menos esperava a minha pintou-se com as cores vivas da Primavera mesmo que lá fora as cores sejam de Outono.
Apenas tenho de fazer as cores fluírem e colorirem o meu desenho com pinceladas precisas e harmoniosas.
Obrigado a todos que nos dias mais cinzentos gentilmente me cederam pinceladas das suas cores para colorirem o meu desenho.
So long fellows!
Quando entramos num emprego novo estamos cheios de expetativas, queremos agarrar o nosso lugar, temos ansiedade em trabalhar, em ajudar a empresa a crescer, agarramos os novos projetos com força e vontade, afinal nada como uma nova oportunidade para nos sentirmos motivados.
Se a empresa for nova e fizermos parte dela desde o início esse sentimento duplica, encaramos a empresa desde o primeiro instante como sendo um bocadinho nossa, vestimos e suamos a camisola com orgulho.
Nada melhor do que sentir que o nosso esforço é apreciado e recompensado, a empresa cresce e nós crescemos com ela e cresce o nosso orgulho por ela.
Até que um dia a empresa cresce tanto que passas a ser mais um funcionário, e não interessa que tenhas ensinado e ajudado todos os colaboradores do teu departamento, não interessa que tenhas dado sempre mais do que aquilo que te foi pedido, esquecem-se as horas extras, o trabalho feito em casa, as chamadas a horas impróprias e todos os sacrifícios que fizeste.
Passam a ser muitos e tu és mais um. Mas continuas a fazer o teu trabalho como sempre fizeste, consciente que deverias ter-te mantido fiel ao que já sabias, que por mais que dês nunca é suficiente.
E um dia sem saberes explicar como um desses graxas, essa espécie que deveria ser extinta, aparece na tua empresa e começa a fazer ninho, ao princípio ninguém dá por ele, quando se percebe as suas verdadeiras intenções já todo o terreno está minado.
E do nada, há mau ambiente, há receios, ninguém está seguro num terreno minado.
E descobres que todo o trabalho que fizeste para a empresa não conta para nada, afinal os funcionários parecem descartáveis, sucedem-se uns atrás dos outros.
E lá se vai a paz de espírito, o bom ambiente e o empenho no projeto.
E mais uma vez percebes que não adianta vestir a camisola, não adianta suar pelo amor à camisola, porque os patrões nunca estão satisfeitos e se lhes dás um dedo eles irão querer o braço, e depois o outro braço, as pernas, o tronco e no final a cabeça.
E mesmo que não percebas isso a tempo e lhes chegues a dar a cabeça, não adiantará de nada porque bastará uma crise, cortes financeiros, uma intriga, um desentendimento e a tua cabeça rolará como a dos outros, só que a tua demorará mais tempo a levantar-se, tal será a desilusão, o desencanto e a indignação que sentirás.
Vestir e usar a camisola é para os profissionais de desporto.
Os outros o melhor que têm a fazer é sair a horas, desligar a ficha e suar a camisola em atividades lúdicas...
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